AVEIRO
Histórico
A origem do Município remonta à época
da formação de uma aldeia de índios Mundurucus, denominada Tapajós-Tapera,
localizada à margem do rio Tapajós, com índios descidos do alto deste rio. Essa
aldeia alcançou grande progresso e obteve a denominação portuguesa de Lugar de
Aveiro, por ato do governador e capitão- general José de Nápoles Tello de
Menezes, em 23 de agosto de 1781, que nomeou, na mesma ocasião o morador
Francisco Alves Nobre para administrá-la.
Pelos registros oficiais constatou-se
a existência da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Aveiro, antes de
1781, do que se conclui, portanto, que o ato de criação desse lugar foi somente
uma confirmação, pois o local já era conhecido como Aveiro. Também haviam, no
local, mais duas freguesias a de São João Baptista de Brasiléia Legal e a de São
José do Pinheiro. A primeira, Nossa Senhora da Conceição de Aveiro, passou do
Período Colonial para a Independência, na condição de freguesia, quando teve
seus limites definidos pela lei nº 511, de 1 de dezembro de 1866. Em 1854 a
freguesia de São João Batista de Brasiléia Legal passou à categoria de vila,
passando a chamar-se Brasiléia Legal. Mas em 1856 perdeu àquela condição,
passando a incorporar o município de Itaituba. A Lei nº 1.152, de 4 de abril de
1883, desmembrou parte do município de Itaituba, para elevar a freguesia de
Nossa Senhora da Conceição de Aveiro à categoria de Município, com o topônimo de
Aveiro, o qual, foi instalado, em 15 de maio de 1884.
Em 1930, Aveiro perde a condição de
Município, sendo seu território incorporado ao de Santarém, com parte do
distrito de Alter do Chão, conforme o Art. nº 2 do Decreto nº 6, de 4 de
novembro. Em 1961, através da Lei nº 2.460, de 29 de dezembro, o Município foi
restaurado, compreendendo os antigos distritos de Aveiro e São José do Pinheiro,
além de parte dos distritos de Boim e Belterra, pertencentes ao município de
Santarém, do distrito de Brasília Legal, que fazia parte do município de
Itaituba e parte do único distrito de Juruti. Em 1988, através da Lei nº 5.446,
de 10 de maio, o município de Aveiro teve seu território desmembrado para a
criação do
município de Rurópolis. Atualmente o
Município está constituído dos distritos de Aveiro, Brasília Legal e Pinhel.
No
município está a localidade de Fordlândia,
restos do que foi um fracassado projeto de plantação de seringueiras, às margens
do Rio Tapajós, patrocinado por Henry Ford, e
propriedade da Companhia Industrial Ford do Brasil. De 1927 a 1945 a Ford
gastou milhões de dólares no que seria uma cidade modelo norte-americana no
coração da mata Amazônica.
Texto
extraído da pesquisa Estatística Municipal 2008
Governo
do Estado do Pará
Secretaria
de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças – SEPOF
Aspectos
Geográficos
O Município de Aveiro localiza-se ao
Norte do Brasil, e compõe a Região Oeste do Pará, mesorregião do Baixo Amazonas,
microrregião de Itaituba. Limita-se ao Norte com os Municípios de Santarém,
Juruti e Belterra. A leste faz fronteira com Santarém e Rurópolis, ao sul com
Rurópolis e Itaituba a oeste limita-se com o Estado do Amazonas.
População
Com uma
população de cerca de 18.830 habitantes, dos quais apenas 3.510 residem na zona
urbana e 15.320
são moradores
da zona rural, Aveiro ocupa uma superfície territorial de 17.158
km².
Tabela 1 DADOS DEMOGRÁFICOS 1996-2007
Anos
|
População
(Hab.)
|
URBANA
|
RURAL
|
1996
|
13.641
|
2.877
|
10.764
|
1997(1)
|
14.618
|
3.083
|
11.535
|
1998(1)
|
15.442
|
3.257
|
12.185
|
1999(1)
|
16.266
|
3.431
|
12.835
|
2000
|
15.518
|
2.982
|
12.564
|
2001(1)
|
16.119
|
3.095
|
13.024
|
2002(1)
|
16.495
|
3.168
|
13.327
|
2003(1)
|
16.948
|
3.255
|
13.693
|
2004(1)
|
17.976
|
3.452
|
14.524
|
2005(1)
|
18.426
|
3.538
|
14.888
|
2006
|
18.949
|
3.639
|
15.310
|
2007(1)
|
18.830
|
3.510
|
15.320
|
FONTE:
IBGE, 2008
ELABORAÇÃO:
SEPOF/DIEPI/GEDE
(1) População Estimada
No
município de Aveiro está o distrito de Fordlândia, uma
pequena cidae construída em 1928 pelo
industrial Henry Ford, que
gastou milhões de dólares para erguer uma cidade modelo norte-americana no
coração da mata Amazônica.
Fordlândia
foi o nome dado a uma gleba de terra adquirida pelo empresário norte-americano
Henry Ford,
através de sua empresa Companhia Ford Industrial do Brasil, por concessão do
Estado do Pará, por
iniciativa do governador Dionísio Bentes e
aprovada pela Assembléia Legislativa, em 30 de setembro de
1927. A
área de 14.568 km2 fica próximo a cidade de Santarém, no
estado do Pará, às margens
do Rio
Tapajós.
O Município apresenta forte
característica rural, notadamente porque 81% de sua população vive na zona
rural. As comunidades rurais estão assim distribuídas conforme tabela
2.
Tabela 2 Comunidades Rurais de
Aveiro
REGIÃO RURAL
|
COMUNIDADES
RURAIS
|
Aveiro
|
Juturana, Itapuama, Uruará, São Raimundo, Godinho, São
Francisco, Távio, Daniel de Carvalho, Açaituba, Paraíso
|
COLÔNIAS DE
BRASÍLIA LEGAL
|
Monte Claros,Trairão, Trairinha, Col. B. Legal, Col. B.
Legal, Serra da Fumaça, Barriga Cheia, Cristalino I, Col. B. Legal, Curi TEÇÁ,
Col. Curi, Col. Curi, Gleba Arraia, Col. Curi, Col. Curi, Curi TIMBÓ, PA
Cristalino, Estrada Barreira, Jaguarão, Chico Lau, Santa Inês
|
FORDLÂNDIA
|
Cauassu-ê-pa, Arara, Cachoeirinha, Cachoeirinha,
Andrelândia, Egito, Urucurituba, Igarapé Açu, Campo Grande, Santa
Luzia
|
ARAIPÁ
|
Lago
do araipá, Lago do Pereira, lago do, monte cristo
|
TRANSFORDLÂNDIA
|
I, II, III, IV,V,VI, Campo Grande, Samaúma,
Cacoal
|
APACÊ
|
Tumbira,
Escrivão
|
PINHÉL
|
Anduru, Cametá,
Camarão
|
Fonte:
Plano Diretor de Aveiro, 2006
Patrimônio
natural e Vegetação
A maior parte do Município é recoberta
pela Floresta Densa com emergentes, nas margens do rio Cupari. Em áreas
isoladas, ocorre a Floresta Aberta mista (com palmeiras). Ao longo das margens
do rio Tapajós, onde existe influências de inundação, e nas ilhas predominam as
Formações pioneiras e áreas de Tensão Ecológica onde a Floresta Densa se
encontra com as Formações Pioneiras.
Texto
extraído da pesquisa Estatística Municipal 2008
Governo
do Estado do Pará
Secretaria
de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças – SEPOF
Hidrografia
A hidrografia
no município de Aveiro é representada, prioritariamente, pelo rio Tapajós que
faz limite parcial ao sul com Rurópolis, em parte de seu médio e baixo
curso. O Tapajós recebe em ambas as margens, uma série de afluentes
inexpressivos. Na margem direita está
localizado o mais importante, o rio Capuri, no seu baixo curso que serve de
limite parcial a Sudoeste com Rurópolis. É na margem
direita
que está situada a sede do Município. Pela margem esquerda o Tapajós recebe
alguns igarapés como: Parone, Açú, Arara e igarapé Furo do Custódio, limite com
Itaituba. No centro e a oeste, destacam-se as nascentes dos rios Andirá, Mamurú
e Arapiuns.
Topografia,
Geologia e Relevo
Na sede, a altitude regula,
aproximadamente, 40 metros. Para o sul, a topografia se torna mais expressiva
alcançando mais de 230 metros, nas áreas paleozóicas da Bacia do
Amazonas
A geologia no município de Aveiro é
representada predominantemente pelos sedimentos terciários da Formação Barreiras constituída de arenitos,
argilitos caulinícos e siltitos e subordinadamente, ao sul do Município, pelos
sedimentos paleozóicos da Bacia do Amazonas, onde despontam o Grupo Urapadi, com
as formações Trombetas - siluriano, Maecuru (Devoniano Inferior ) e Ererê
(Devoniano Médio). Formação Curuá (Devoniano Superior) e o Grupo Tapajós,
com as formações Monte Alegre (
Carbonífero Inferior) e Nova Olinda
(Carbonífero Superior). Estão presentes ainda, manchas de rochas básicas de
mesozóica, que correspondem ao Diabásio Penatecaua.
Recobrindo toda essa seqüência, estão
os sedimentos inconsolidados do Quaternário Subatual e Recente, localizados nas
margens dos rios
Acompanhando a geologia, o relevo
possui áreas em colinas, planaltos tabulares, baixos platôs, amazônicos,
terraços e várzeas que morfoestruturalmente correspondem ao Planalto Rebaixado
da Amazônia - Médio
Amazonas.
Clima/Temperatura
As características climáticas do
Município não diferem muito das de sua região. A temperatura do ar é sempre
elevada, com média anual de 25,6ºc e valores médios para a máxima de 31ºc e,
para a mínima de 22,5ºc.
Quanto à unidade relativa, apresenta
valores acima de 80%, em quase todos os meses do ano.
A pluviosidade aproxima-se dos 2.000mm
anuais, porém é um tanto irregular, durante o ano. As estações chuvosas
coincidem com os meses de dezembro-junho e, as menos chuvosas, de
julho-novembro.
O tipo climático da região é o Ami que
se traduz como um clima cuja média mensal de temperatura mínima é superior a
18ºc. Tem uma estação seca de pequena duração e amplitude térmica inferior a 5ºc
entre as médias do mês mais quente e do mês menos quente.
O excedente de água do solo, segundo o
balanço hídrico, corresponde aos meses de fevereiro-julho, com um excedente de
mais de 750mm, sendo março o mês de maior índice. A deficiência de água se
intensifica entre agosto-dezembro, sendo setembro o mês de carência, ao se
constatarem menos de 90mm.
Acesso
Os
principais meios de transporte são o rodoviário e o hidroviário. A
Transforlândia é a rodovia que liga o município de Aveiro à Santarém-Cuibá (BR
163). Esta rodovia liga Santarém
ao Município de Rurópolis, através do cruzamento com a BR-230, Rodovia
Transamazônica,
distando 1.467 km até a capital do Estado do Pará. O meio hidroviário se dá
através do rio Tapajós, sendo realizado por lanchas e embarcações de médio e
pequeno porte. Aveiro e Fordlândia não possuem porto, apenas um pequeno
atracadouro em precárias condições. O Município conta com um campo de pouso para
pequenas aeronaves, mas com pouca movimentação.
Economia
O
Município de Aveiro tem sua história econômica
fundamentada no ciclo econômico da borracha na Amazônia quando a busca pela
exploração do látex promoveu a implantação do empreendimento Ford em 1928 na
localidade de Fordlândia, nome do magnata da indústria de automóveis, Henry
Ford, que batizou a cidade em estilo americano, cuja finalidade era a produção
de pneus.
Ford implantou
o cultivo planejado de seringueiras em Belterra, a fim de produzir borracha
natural para a
fabricação de
pneus.
A infertilidae
do solo e a inexperiência dos gerentes de Ford em agricultura na
Amazônia tornou o projeto
Ford inviável. As seringueiras,
árvores de onde se extrai o látex, plantadas muito próximas entre si, o oposto
das naturalmente muito espaçadas na selva, foram presa fácil para pragas
agrícolas, principalmente microorganismos do gênero Microcyclus que
dizimaram as plantações.
Atualmente a economia de Aveiro está
assentada na agricultura, pesca, pecuária, comércio e serviços e no turismo
ecológico.
II
– Diagnóstico
Caracterização
da Área de Interesse
A área de interesse do PACH do
Município de Aveiro envolve a frente de sua sede e, é representada por algumas
residências e prédios históricos que revelam a influência da colonização
portuguesa no trecho da Avenida Humberto Frazão entre as travessas Fernando
Guilhon e Rui Barbosa.
A
área de maior interesse histórico, sem dúvida, é a do Distrito de Fordlândia,
cidade histórica construída em 1928, pelo magnata Henry Ford, em plena floresta
amazônica. Uma cidade americana
no coração da Amazônia, pois sua
arquitetura lembra as típicas cidades do interior dos Estados Unidos.
Localizada à margem direita do Rio
Tapajós, na bacia do Rio Cupari, no município de Aveiro, numa comunidade
denominada Boa Vista, Fordlândia foi uma cidade modelo
dentro dos padrões americanos com suas vilas de casas planejadas, de madeira,
que serviam de residências para os funcionários e seus familiares, jardins
projetados com espécies da flora local, edificações de infraestrututura
econômica, social e de lazer: lojas, prédios de recreação, clubes esportivos,
cinema. hospitais, mercearias, portos, escolas, praças etc.
Atraiu
parcela considerável dos trabalhadores braçais vindos do nordeste, fugindo da
seca, e que encontravam no projeto de Henry Ford a expectativa de
melhores dias de
vida.
O
patrimônio histórico, artístico e cultural do Município de Aveiro é representado
também pelas manifestações culturais e artísticas, destacando-se as festas
religiosas, especialmente o Círio de Nossa Senhora da Conceição, a
festa de São José, do Sagrado Coração de Jesus, a de São João
Batista,
Nsª
Srª de Nazaré,
Festival
Folclórico Balão Vermelho, festival folclórico, artesanato que utiliza sementes,
cipós da floresta, entrecascas de madeiras, escamas de peixes para a fabricação
de bolsas, chapéus, colar, pulseiras, vasos, miniaturas de embarcações e remos.
O
turismo ecológico é um segmento sócio ambiental e econômico potencial que se
associado à políticas públicas e ações que promovam a recuperação e
revitalização do patrimônio histórico e cultural pode gerar riquezas, emprego,
renda e preservação ambiental.
A
beleza das praias do rio tapajós, a exuberância da Floresta Nacional do Tapajós
e dos rios que cortam Aveiro e Fordlândia, as cavernas arqueológicas, os
tabuleiros de quelônios, bem como as manifestações culturais são riquezas que
podem ser de grande valor para o desenvolvimento da Região.
Fordlândia
Em dezembro de 1928 dois navios, Lake
Ormoc e Lake Farge, depositaram em Fordlândia os componentes que estruturariam a
nova cidade. Sob a direção do americano Einar Oxholm, operários brasileiros
puseram-se imediatamente a trabalhar na construção daquela que iria se
transformar em pouco tempo na terceira mais importante cidade da Amazônia,
oferecendo aos seus habitantes hospital, escolas, água encanada, moradia,
cinema, luz elétrica, porto, oficinas mecânicas, depósitos, restaurante, campo
de futebol, igreja, hidrantes nas ruas, emprego.
Num ritmo acelerado a cidade foi
brotando no meio da selva. A caixa d’água, símbolo da presença do Ford na
Amazônia, trazida encaixotada dos Estados Unidos, foi montada e colocada em
ponto estratégico para ser vista por todos que ali aportassem. Vilas de casas
dos funcionários, administradores e visitantes iam sendo construídas. Fordlândia
seria a primeira “cidade empresa” edificada na Amazônia, criada para garantir a
lógica produtiva dos grandes projetos, provocando verdadeira revolução na
realidade local e regional, transformando as relações de trabalho e a vida
social dos seus habitantes.
Jacob Cohen, no seu livro “Fordlândia,
a grande interrogação do futuro” escrito em 1929, assim descreve a construção da
cidade: “O primeiro cuidado dos engenheiros encarregados foi lançar as primeiras
fundações, tendo-se agasalhados parte deles na antiga casa de Boa Vista, que foi
remodelada. Depois mandaram construir o Barracão Central que serve de
escritório, consultório médico e dentário, farmácia, armazém de mercadorias,
refeitório, etc., iluminado a luz elétrica, com telefone e ventiladores
elétricos”.
Em seguida construíram o porto e o
hospital, que Cohen classifica “como modelar no gênero, obedecendo a mais
rigorosa higiene, com serviço de ambulância equiparado ao de Belém. O
almoxarifado, um edifício em forma de chalé, onde funciona também a seção de
eletricidade. A serraria, montada provisoriamente perto do almoxarifado e do
porto, contem uma bancada de serra para toras e uma aplainadeira mecânica,
recebe sua força motriz de uma usina central por meio de acumuladores
elétricos.”
Paralelamente à construção da cidade,
tiveram início os trabalhos de derrubada da mata para o plantio do seringal. No
final de 1929, tinham completado a limpeza e o plantio de 400 hectares, bem
aquém do que tinha sido planejado pelos administradores da Companhia Ford
Industrial do Brasil – CFIB, sociedade anônima criada em 1927 com objetivo de,
entre outras coisas, “proceder à plantação de seringueiras e exercer a
indústria extrativa relativa a esse produto”, como consta em seus estatutos.
Nos dois anos seguintes, mais novecentos hectares foram desmatados.
Foi o primeiro grande desmatamento
contínuo nas terras firmes da Amazônia. Nesse tempo a insipiente pecuária ainda
restringia-se às terras de várzea com seus campos naturais e marombas, prática
que foi alterada a partir da grande cheia de 1953 que obrigou os criadores a
formarem pasto em terra firme.
A partir do desmatamento para o
plantio do seringal os problemas começaram a surgir em Fordlândia. A idéia de
retirar antes da queimada a madeira comercializável reduziu o ritmo da operação
de desmatamento. A madeira retirada deveria ser exportada para a Europa e
Estados Unidos, mas o plano de compensar o investimento inicial com a venda da
madeira fracassou, sendo abandonado ainda em 1929. Para essa atividade a
Companhia tinha instalado aquela que foi considerada à época a maior serraria da
América Latina, e que depois ficou somente desdobrando madeira para a construção
dos galpões e casas dos operários, e produzindo lenha para as
caldeiras.
Contudo, o fator mais determinante
para o fracasso da Companhia na produção de borracha em Fordlândia foi a falta
de critério técnico na escolha da área. Escolha induzida pela dupla
Vilares/Blakeley, que meses antes tinha obtido gratuitamente do governo paraense
a concessão dessa área de um milhão de hectares, e comercializado em seguida com
Ford por 125 mil dólares.
A topografia montanhosa e solo
predominantemente arenoso de Fordlândia dificultavam o cultivo mecanizado,
elevando o custo de implantação do seringal. Além do clima com umidade relativa
do ar elevada, que favorecia o ataque do inimigo número um da seringueira na
Amazônia, o “Mal das Folhas”, doença causada pelo fungo Microcyclus ulei,
até então desconhecido dos americanos de Fordlândia que, por isso mesmo, não
estavam preparados para combatê-lo.
O Agrônomo Eymar Franco, no seu livro
de memórias “O Tapajós que eu vi”, relata que em 1928 chegou a Companhia Ford
Industrial do Brasil e trouxe uma era de prosperidade que prometia ser
duradoura. Em fins de 1945, princípios de 1946, a Ford retirou-se do Tapajós e
ele mergulhou novamente no silêncio e no esquecimento, ficando ainda mais pobre
do que antes”, afirma Eymar.
Fordlândia hoje se encontra
abandonada, quem a visita vislumbra somente vestígios da “era de prosperidade” a
que se refere Eymar Franco. Após a saída dos americanos, o patrimônio material
de Fordlândia foi sendo dilapidado pouco a pouco, através de sucessivos leilões
públicos e outros tantos não oficiais, que mais poderiam ser chamados de saques
contra o patrimônio construído pela Companhia e adquirido pelo governo
brasileiro.
Ficaram alguns prédios em ruína que
ainda servem de atrativo aos poucos turistas e pesquisadores que procuram
constatar e compreender a presença americana na Amazônia. Chegam atraídos pelo
que representou a borracha na economia mundial do século XIX e metade do século
XX, e a importância da Região nesse contexto. Vêm em busca de conhecer uma
História que nesse período influenciou diretamente a economia brasileira e
mundial, mas que nós brasileiros ainda não conseguimos entendê-la
suficientemente para evitar que se reproduza.
Em Fordlândia ainda encontram-se
presentes alguns poucos moradores remanescentes do tempo do fastígio da
borracha, que vivem a lembrar como era bom trabalhar e conviver com os
americanos, com assistência médica e hospitalar garantidas para toda a família,
escola com professoras trazidas de Belém para educarem seus filhos,
nutricionistas para controlar a alimentação dos gringos e dos caboclos, água
tratada e abundante nas torneiras, luz elétrica nas casas.
Fordlândia, que em 1930 chegou a ter
uma população de 2.500 habitantes, a metade da população de Santarém na época,
definhou. Hoje, 1.700 habitantes sobrevivem sem esperança de dias melhores,
abandonados à própria sorte, sem condições de estabelecer uma agricultura
competitiva por causa da desestruturação da base produtiva: insuficiência de
assistência técnica, crédito, pesquisa, insumos, estradas, comercialização,
armazéns, etc.. Estão isolados.
O turismo, que poderia ser outra
alternativa viável, precisa de investimentos que viabilizem a estruturação do
turismo receptivo que potencialmente Fordlândia representa, ela que hoje é um
Distrito do município de Aveiro. Enquanto Belterra, com uma população de 16.275
habitantes, após uma luta de décadas, conseguiu em 1997 emancipar-se
politicamente de Santarém, sendo elevada à categoria de município.
Texto extraído da
publicação Fordlândia: Breve
Relato da Presença Americana na Amazônia, de autoria do Engenheiro Florestal
Cristovam Sena editado pelo Instituto
Butantan em Cadernos de História da Ciência. Vol IV, nº 2, julho/dez
2008, História, Ciência e
Fronteiras na Amazônia.
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